Levantamento do
Ministério Público do Trabalho (MPT) no Maranhão, com base no Observatório
Digital de Trabalho Escravo (SMARTLAB MPT / OIT), revela que, de 2003 a 2017,
mais de 8 mil maranhenses foram resgatados de situação análoga à escravidão em
outros estados da federação. Esse dado coloca o Maranhão em primeiro lugar no
ranking nacional de fornecimento de mão de obra escrava.
O estudo mostra que
dos 43.428 resgatados em todo o país, 35.084 tiveram sua naturalidade
identificada. Desse total, 22,85% afirmaram ter nascido no Maranhão (8.015
pessoas), o que garante uma média de um maranhense para cada cinco resgatados.
O município de Codó
é o segundo maior fornecedor de mão de obra escrava do país, com 429 resgatados
nascidos nessa cidade. O recordista é Amambai (MS), com 480 trabalhadores. Em
terceiro lugar está São Paulo (SP), com 427 resgatados.
O balanço também
constatou que o Maranhão lidera a estatística nacional de resgatados
residentes. Nesse caso, 18,35% dos resgatados de condições semelhantes à
escravidão declararam morar em território maranhense. Codó também figura entre
os cinco municípios do país com maior número de residentes resgatados, com 356
trabalhadores.
Repressão
insuficiente
Segundo a
procuradora do Trabalho que coordena o combate ao trabalho escravo no MPT-MA,
Virgínia de Azevedo Neves, a realidade que obriga os trabalhadores a deixarem
suas comunidades em busca de emprego em outras localidades não mudou. “As
pessoas continuam tendo que sair do Maranhão, pois não há oportunidades de
emprego e renda para todos. Além disso, muitos resgatados de hoje voltam a ser
vítimas do trabalho escravo amanhã”, diz.
Para Virgínia
Neves, apenas a repressão não é suficiente para romper com esse ciclo. “O
trabalho escravo é um problema social. Precisamos de ações coordenadas e
políticas amplas, eficazes e fortes, que garantam a reinserção e a qualificação
dos resgatados”, lembra ela.
Acordo inédito no
país
Uma das estratégias
para transformar essa realidade foi a assinatura, em maio deste ano, de um
termo de ajuste de conduta (TAC), inédito no país, com o governo do Maranhão,
que se comprometeu em criar o programa estadual de enfrentamento ao trabalho em
condições análogas a de escravo. O acordo possui 19 cláusulas que devem ser
cumpridas até o dia 1º de março de 2018.
“Com esse
instrumento, que tem força de uma sentença judicial, o Estado se compromete a
implementar políticas públicas de combate ao trabalho escravo, assegurando
direitos fundamentais aos trabalhadores”, explica Virgínia.
O programa estadual
prevê a política de mobilização, prevenção e reinserção social das vítimas da
exploração, com ações articuladas nas áreas de educação, saúde, assistência
social, trabalho, promoção de acesso à terra, qualificação profissional e
emprego e renda.
Combate ao trabalho
escravo no Maranhão
Atualmente, o
MPT-MA conduz 52 investigações dentro da temática do trabalho escravo em todo o
estado. O órgão possui 65 ações civis públicas ativas na Justiça do Trabalho e
acompanha o cumprimento de 72 termos de ajuste de conduta, que foram assinados
pelos exploradores de mão de obra escrava em território maranhense.