247 - Dois anos depois da primeira "lista
do Janot", com a primeira leva de pedidos de abertura de inquéritos da
Lava Jato no Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
prepara-se para enviar à corte nesta segunda ou terça a segunda edição da lista.
Dessa vez, muito mais extensa e atingindo diretamente o núcleo de poder em
Brasília.
Serão cerca de 80 pedidos de abertura de inquérito contra a
cúpula do governo Temer, parlamentares do governo e da oposição e até ministro
do Tribunal de Contas da União (TCU). Procuradores da República passaram o
domingo na sede da PGR, em Brasília, revisando os últimos detalhes do material,
sob supervisão de Janot. A intenção é enviar os documentos ao STF ainda hoje
ou, no máximo, amanhã.
"Um dos inquéritos traz indícios de que a Odebrecht deu
propina ao PMDB, depois de acertar os valores em um jantar no Palácio do
Jaburu, em 2014, com presenças de Michel Temer e do ministro da Casa Civil,
Eliseu Padilha. Temer, no entanto, deve ficar fora do processo. A Constituição
Federal impede que o presidente da República seja investigado por fatos
ocorridos antes do mandato. Mesmo sem Temer no inquérito, o fato será
investigado no STF. Isso porque Padilha, um dos suspeitos, tem direito ao foro
especial. O depoimento voluntário de José Yunes, ex-assessor e amigo de Temer,
vai ser incluído nas investigações. Ele disse que recebeu do doleiro Lúcio
Funaro um envelope, e a entrega teria sido solicitada por Padilha. Yunes também
disse que, depois do episódio, contou tudo a Temer.
Se Temer vai ser poupado da investigação, como ocorreu com a
então presidente Dilma Rousseff na primeira versão da lista de Janot em 2015, o
mesmo não ocorrerá com Padilha; com o líder do governo no Senado Romero Jucá
(PMDB-RR); e com aliados de peso do governo como o senador Aécio Neves, todos
citados nas delações da Odebrecht. O ministro da secretaria-geral da
presidência, Moreira Franco, também foi citado nas delações, mas ainda não está
claro se estará entre os investigados.
A nova edição da Lava-Jato no STF será uma espécie de caixa de
Pandora aberta. Em delação premiada, 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht
deram detalhes de como era feito o pagamento de propina a integrantes do PMDB,
PSDB e PT — os três partidos protagonistas da política brasileira nos últimos
anos. Mas há ainda denúncias para atingir outros partidos. Foram prestados
cerca de 950 depoimentos, todos em vídeo. Os advogados dos delatores já pediram
ao tribunal que mantenha as imagens sob sigilo, para preservar os clientes. A
decisão caberá ao relator da Lava-Jato, ministro Edson Fachin."