247 – Nunca é demais recordar: em agosto de 2014, a
economia brasileira vivia uma situação de "pleno emprego". A taxa de
desemprego, segundo o IBGE, era de apenas 5% – a menor de toda a série
histórica com os critérios atuais, iniciada em 2002 (relembre aqui).
O ministro da Fazenda era Guido
Mantega, preso e solto nesta semana, na mais polêmica etapa da Operação Lava
Jato. Acusado freqüentemente de "quebrar a economia brasileira",
Mantega foi o ministro que entregou as maiores taxas de crescimento da história
recente do País (no governo Lula) e os menores níveis de desemprego (no governo
Dilma).
Poucos meses depois daquele
agosto fantástico, logo depois de ser reeleita para o segundo mandato, a
presidente Dilma Rousseff reconheceu que o novo quadro internacional, com a
queda das commodities e o esgotamento das medidas de estímulo, exigia um ajuste
fiscal. Decidiu trocar Mantega por Joaquim Levy, que planejava colocar em
marcha um rápido plano de controle orçamentário, que previa a volta da CPMF e o
reequilíbrio das contas públicas.
Tudo parecia certo, mas não
havia pintado ainda no horizonte a aliança entre o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), derrotado nas eleições presidenciais de 2014, e o hoje cassado
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Juntos, ambos fizeram com que a agenda do
País passasse a ser dominada pelo tema do impeachment, contando com o auxílio
luxuoso dos meios de comunicação conservadores. Se isso não bastasse, colocaram
em pauta no Congresso as "pautas-bomba", que arrombavam as contas
públicas e impediam qualquer iniciativa de ajuste. Era a tática do "quanto
pior, melhor", defendida publicamente por alguns tucanos, como Alberto
Goldman, como estratégia para se conseguir o impeachment (saiba mais aqui).
O resultado foi a deterioração
progressiva da economia brasileira, que criou as condições para o crescimento
dos protestos de rua. Além disso, o avanço da Operação Lava Jato prejudicava
setores inteiros da economia, como a construção pesada e a indústria naval,
aumentando a massa de desempregados.
O resto da história é
conhecido. Dilma foi afastada, o PMDB está no poder e o PSDB, que apostou no
'quanto pior, melhor', hoje posa de bom moço, cobrando de Michel Temer cortes
de gastos e reformas estruturais na economia. A Petrobras vende ativos a toque
de caixa, em processos com pouca transparência, no que vem sendo definido pelos
petroleiros como um crime de lesa-pátria (leia mais aqui).
17
meses de demissões
Quem ganhou com isso? Os
brasileiros, certamente, não. Com os dados do Caged divulgados nesta sexta-feira,
soube-se que a confiança prometida por Temer e Meirelles não voltou. Ao
contrário, as empresas continuam demitindo, ainda que num ritmo menor, e agosto
foi o décimo-sétimo mês seguido de demissões. Em um ano, a crise brasileira
produziu 1,65 milhão de desempregados a mais (saiba mais aqui).
Em Nova York, Temer e sua
equipe tentaram vender otimismo a investidores. Meirelles disse que, a partir
de agora, o preço das concessões será dado pelo mercado – como se as concessões
do governo Dilma tivessem sido um fracasso. O problema é que a história
desmente essa versão. Basta notar as transformações recentes dos aeroportos de
cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Campinas.
Quem hoje de fora olha para o
Brasil enxerga uma economia arruinada, um Poder Judiciário hipertrofiado,
empresários amedrontados, e alguns sendo obrigados a depositar fianças
bilionárias para, simplesmente, ter o direito de entrar nas próprias empresas.
Por mais que se venda "segurança jurídica", os donos do capital não
são idiotas.
O resultado final é uma
economia em círculo vicioso: menos emprego, menos renda, menos consumo, menos
investimento, menos arrecadação e contas públicas – o pretexto para o golpe –
ainda mais arrombadas. Não por acaso, a única realização obtida até agora pela
equipe econômica foi a ampliação do déficit em mais de R$ 100 bilhões.
Valeu a pena destruir o Brasil
para retirar o PT do poder? Os que hoje estão no poder e os que tentam contar
uma história oficial a partir dos meios de comunicação associados ao golpe
dirão que sim. Mas a conta ficou pesada demais e será paga pelas próximas
gerações. Por muitos e muitos anos.