Por Tereza Cruvinel
A
resposta “veemente” que o presidente interino Michel Temer deu hoje sobre a
delação de Sergio Machado, de que teria pedido recursos ilícitos no valor de R$
1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita, não deve ser a última sobre seu
eventual envolvimento com o esquema investigado pela Lava Jato. No acordo
preliminar para sacramentar a delação premiada da construtora
Odebrecht, um dos executivos promete falar sobre uma doação de R$ 50 milhões
para o PMDB, que teria tido a intermediação de caciques do partido, inclusive
de Temer. Os termos preliminares de uma delação podem acabar não
figurando nos depoimentos oficiais, que ainda não foram tomados,
mas esta revelação, segundo fontes do Ministério Público, aparece no
termo preliminar.
Este esboço que vem sendo negociado incluiria a participação de
quase 50 executivos da empresa que tiveram, em diferentes momentos,
participação no esquema de “financiamento ilícito e ilegal” de atividades
político-partidárias, conforme definição da própria Odebrecht em sua nota
de março, quando anunciou uma “colaboração definitiva” com a Lava Jato.
A delação que assombra o mundo político deve implicar vários
partidos, como PMDB, PSDB, PT, PP, DEM e outros, 13 governadores (ou
ex-governadores) e cerca de 100 parlamentares que teriam recebido
recursos ilícitos, derivados do fechamento de contratos com a Petrobrás e
outras estatais, sob a forma de doações . Algumas declaradas oficialmente,
outras por debaixo do pano, o popular caixa dois.
O detalhamento dos R$ 50 milhões destinados ao PMDB não deixaria
pedra sobre pedra na cúpula do partido que hoje comanda o governo.
Temer, pessoalmente, é alvo de outras duas citações na Lava Jato
que vêm sendo deixadas no esquecimento. Uma aparece na transcrição de
conversa por rede eletrônica entre Léo Pinheiro, da OAS, e Eduardo Cunha, que
reclama de um pagamento de R$ 5 milhões a Temer, sem retirar a parcela de
outros peemedebistas. Pinheiro então diz que explicará melhor depois,
mas esclarece que se trata de recursos relacionados com outra
coisa, a concessão do aeroporto de Guarulhos à OAS.
A informação sobre o suposto pagamento a Temer aparece na
manifestação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, ao
fundamentar a autorização para a Operação Catilinárias, em dezembro passado.
Eis um trecho do pedido do procurador-geral Rodrigo Janot, transcrito por
Teori ao autorizar a operação: “Eduardo Cunha cobrou Léo Pinheiro por ter pago,
de uma vez, para Michel Temer, a quantia de R$ 5 milhões, tendo adiado
os compromissos com a 'turma'.” Na época, Temer explicou tratar-se
de uma doação legal de R$ 5 milhões da OAS ao PMDB . A Folha de São Paulo
tratou do assunto na matéria que pode ser acessada pelo seguinte link.