Depois de meses de disputa judicial, o
Ministério do Trabalho divulgou a chamada “lista suja” do trabalho escravo. São
68 empregadores acusados de manter trabalhadores em condições análogas à
escravidão.
Do total de empresas, 28 são fazendas.
O imbróglio judicial se arrastou por pelo menos dois anos. Uma ação da
Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) questionou a
lista suja no Supremo Tribunal Federal (STF), em dezembro de 2014.
A Advocacia-Geral da União (AGU), no
entanto, conseguiu no início de março, uma liminar do presidente do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Filho, contra a decisão anterior do
juiz de Brasília. O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, então, montou um
grupo de trabalho para criar uma nova portaria.
A liminar do presidente do TST foi
derrubada por decisão de outro ministro da mesma Corte e levou o governo a
publicar a lista ontem à noite.
Maranhão
Na Fazenda Sara, de propriedade de
Alexandre Vieira Lins, em Miranda do Norte, foram encontrados quatro
trabalhadores; na Fazenda Grapia, em São Pedro da Água ranca, de propriedade de
Antônio Calixto Santos, foi encontrado um trabalhador; e na obra da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em Imperatriz, de responsabilida de
empresa Zurc-Saneamento Construções, foram encontrados 17 trabalhadores em
condições análogas à de escravos.
A Zurc, de propriedade do empresários
Antônio Fernando Silva e Cruz, era responsável pela obra da faculdade de
Medicina da UFMA, em Imperatriz, e foi processada pelo MPT em 2016.
As investigações contra a Zurc
começaram em 2014 pela Procuradoria do Trabalho de Imperatriz. Segundo o
procurador responsável pelo caso, Ítalo Ígo Ferreira Rodrigues, em ações
fiscais realizadas de 11 a 21 novembro daquele ano, foram resgatados 17
operários submetidos ao regime semelhante ao de escravidão. Na ocasião, o
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lavrou 29 autos de infração e interditou
o alojamento e equipamentos como andaimes, betoneira e policorte.
A operação flagrou inúmeras
irregularidades no canteiro de obras e nos alojamentos, como o não fornecimento
de água potável, problemas no local destinado às refeições e nas instalações
sanitárias, o não fornecimento de equipamentos de proteção, bem como a
inobservância de outras normas de saúde e segurança.
Os trabalhadores estavam alojados em
barracões junto com ferramentas e materiais utilizados na construção. As
paredes eram improvisadas com tábuas, sem qualquer privacidade e expondo os
trabalhadores a intempéries, insetos e poeira. Não havia também armários
individuais e nem camas: cada operário tinha que providenciar sua própria rede,
lençol e ventilador.
No refeitório, a mesa era improvisada
com três tábuas dispostas uma ao lado da outra, fixadas em barrotes de madeira.
O local não tinha paredes, lavatório e lixeira. Para aquecer as refeições
fornecidas durante os dias de trabalho e cozinhar aos domingos, os homens
fizeram um fogareiro utilizando lata e argila.
A água utilizada para consumo humano
era colhida de uma torneira e não passava por nenhum processo de filtragem. O
empregador também não fornecia copos individuais ou descartáveis. “Os
trabalhadores eram obrigados a utilizar o mesmo copo ou a tampa de garras
térmicas ou então bebiam diretamente da boca da garrafa”, acrescenta o
relatório.
No canteiro de obras, não havia
vestiário e nem lavanderia e os banheiros eram inadequados. “As condições das
instalações sanitárias disponibilizadas, além de vergonhosas, são insalubres e
indignas”, lamentou o procurador Ítalo Ígo Ferreira Rodrigues. Os gabinetes
sanitários estavam sem portas e os banheiros sem chuveiro, além da ausência de
lixeiras, de material para enxugo das mãos e papel higiênico.
Confira a ‘lista suja’ do trabalho
escravo









