O Globo
BRASÍLIA - O ex-presidente do Senado e
da República José Sarney (PMDB-MA) e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) seriam
beneficiários de uma ação de obstrução da polícia legislativa do Senado,
segundo as investigações, para atrapalhar apurações da Lava-Jato. A Polícia
Federal cumpre na manhã desta sexta-feira quatro mandados de prisão temporária
contra policiais legislativos do Senado (Pedro Ricardo, diretor da Polícia
Legislativa; Geraldo Cesar de Deus Oliveira, Everton Taborda e Antonio Tavares,
policiais legislativos). A PF realiza busca e apreensão nas dependências da
Polícia Legislativa da Casa. A suspeita é de que a estrutura tenha sido usada para
fazer contraespionagem contra investigações da Operação Lava-Jato.
A ação teria sido motivada por denúncia
de um servidor da segurança da Casa, devido a processos administrativos para
afastamento de função. Ambos estavam em suas residências.
A PF acredita que a Polícia Legislativa
atuou de forma intimidatória nas ações realizadas. Houve bate-boca do diretor
da PL com policiais no caso da ação em apartamentos funcionais de Fernando
Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffmann (PT-PR).
No caso da senadora do PT, o próprio
Senado reclamou oficialmente da ação porque ela se dirigia ao marido da
petista, o ex-ministro Paulo Bernardo.
Segundo informações, a PF agiu com base
em denúncias de servidor da Polícia Legislativa que estiveram hoje já
acompanhando as buscas. Os policiais federais ainda estão no local para levar
equipamentos e documentos.
A ação faz parte da Operação Métis,
deflagrada na manhã desta sexta-feira para desarticular associação criminosa
armada responsável por embaraçar a Operação Lava Jato, entre outras
investigações, informou a Polícia Federal. A 10º Vara Federal do Distrito
Federal expediu nove mandados judiciais, todos em Brasília, sendo quatro de
prisão temporária e cinco de busca e apreensão, um deles nas dependências da
Polícia do Senado. A Justiça Federal determinou a suspensão do exercício da
função pública dos policiais do Senado envolvidos.
De acordo com a PF, o grupo era
liderado pelo diretor da Polícia do Senado, e tinha a finalidade de criar
embaraços às ações investigativas da Polícia Federal em face de Senadores e
ex-Senadores, utilizando-se de equipamentos de inteligência. "Em um dos eventos,
o Diretor da Polícia do Senado ordenou a prática de atos de intimidação à
Polícia Federal, no cumprimento de mandado expedido pelo Supremo Tribunal
Federal em apartamento funcional de Senador", afirmou, em nota, a
corporção.
Os investigados responderão por
associação criminosa armada, corrupção privilegiada e embaraço à investigação
de infração penal que envolva organização criminosa. Somadas, as penas podem
chegar a 14 anos e seis meses de prisão, além de multa.
O presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), ainda não se manifestou sobre o caso. Segundo assessores, ele já
viajou para Maceió.
Mais cedo, um funcionário do Senado
passou a informação de que havia buscas no gabinete do senador Fernando Collor
(PRB). A informação, porém, está errada. A PF afirmou que o político não é alvo
da ação.
A decisão de determinar a prisão dos
policiais legislativos e o cumprimento de cinco mandados de busca e apreensão
foi expedida pela Justiça Federal de Brasília. O Ministério Público também
solicitou o afastamento do exercício de função pública dos investigados, mas
não há informações ainda se o pedido foi aceito pela Justiça.