O Brasil registrou mais mortes violentas de 2011 a 2015 do que a
Síria, país em guerra, em igual período. Os dados, divulgados hoje (28), são do
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública.
Foram 278.839 ocorrências de homicídio doloso, latrocínio, lesão
corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenção policial no
Brasil, de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, frente a 256.124 mortes
violentas na Síria, entre março de 2011 a dezembro de 2015, de acordo com o
Observatório de Direitos Humanos da Síria.
“Enquanto o mundo está
discutindo como evitar a tragédia que tem ocorrido em Alepo, em Damasco e
várias outras cidades, no Brasil a gente faz de conta que o problema não
existe. Ou, no fundo, a gente acha que é um problema é menor. Estamos revelando
que a gente teima em não assumi-lo como prioridade nacional”, destacou o diretor-presidente do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
Apenas em 2015, foram mortos violentamente e intencionalmente
58.383 brasileiros, resultado que representa uma pessoa assassinada no país a
cada 9 minutos, ou cerca de 160 mortos por dia. Foram 28,6 pessoas vítimas a
cada grupo de 100 mil brasileiros. No entanto, em comparação a 2014 (59.086), o
número de mortes violentas sofreu redução de 1,2%. “A retração de 1,2% não
deixa de ser uma retração, mas em um patamar muito elevado, é uma oscilação
natural, de um número tão elevado assim”, ressaltou Lima.
Das 58.383 mortes violentas no Brasil em 2015, 52.570 foram
causadas por homicídios (queda de 1,7% em relação a 2014); 2.307 por
latrocínios (aumento de 7,8%); 761 por lesão corporal seguida de morte
(diminuição de 20,2%) e 3.345 por intervenção policial (elevação de 6,3%).
Estados
Sergipe, com 57,3 mortes violentas intencionais a cada grupo de
100 mil pessoas, é o estado mais violento do Brasil, seguido por Alagoas (50,8
mortes para cada grupo de 100 mil) e o Rio Grande do Norte (48,6). Os Estados
que registraram as menores taxas de mortes violentas intencionais foram São
Paulo (11,7 a cada 100 mil pessoas), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2).
“Os estados em que as
mortes crescem, com exceção de Pernambuco, são os que não têm programa de
redução de homicídios. Você percebe que quando há política pública, quando você
prioriza o problema, são conseguidos alguns resultados positivos”, disse Lima.
As unidades da Federação que mais aumentaram o número de mortes
violentas foram o Rio Grande do Norte (elevação de 39,1%), Amazonas (19,6%), e
Sergipe (18,2%). Os que mais diminuíram foram Alagoas (queda de 20,8%), o
Distrito Federal (-13%), e o Rio de Janeiro (-12,9%).
“Alagoas, estado que mais
reduziu o número de mortes, é um caso muito interessante. É o único que tem um
programa, em parceria inclusive com o governo federal, há alguns anos. Uma
parceria que envolve não só a Força Nacional, mas outras dimensões de
equipamentos. O estado que tem integração formal de diferentes entes da
Federação é aquele que conseguiu reduzir com mais intensidade”, disse Lima.
De acordo com o diretor-presidente do fórum, a grande maioria
dos oito Estados que têm programas de redução de homicídios teve diminuição no
número de mortes violentas: Alagoas (-20,8%), Bahia (-0,9%), Ceará (-9,2%),
Distrito Federal (-13%), Espírito Santo (-10,7%), Pernambuco (+12,4%), Rio de
Janeiro (-12,9%), e São Paulo (-11,4%).
Letalidade
policial
De acordo com o anuário, a cada dia, pelo menos 9 pessoas foram
mortas por policiais no Brasil em 2015, resultando num total de 3.345 pessoas,
ou uma taxa de 1,6 morte a cada grupo de 100 mil pessoas. O número é 6,3%
superior ao registrado no ano anterior. São Paulo foi o estado com o maior
número de pessoas mortas por policiais em 2015: 848. As maiores taxas de
letalidade policial registradas no último ano foram nos estados do Amapá (5
para cada grupo de 100 mil pessoas), Rio de Janeiro (3,9) e de Alagoas (2,9).
Considerando-se os números absolutos, São Paulo e o Rio de Janeiro concentram
sozinhos 1.493 mortes decorrentes de intervenções policiais, ou 45% do total
registrado no país.
A taxa brasileira de letalidade policial (1,6) supera a de
países como Honduras (1,2) e África do Sul (1,1). “Isso demonstra um padrão de
atuação que precisa ser revisto urgentemente. Esse padrão faz com que você
tenha [no Brasil] o número de pessoas mortas por intervenção policial como o
mais alto do mundo. Nossa taxa de letalidade policial é maior do que a de
Honduras, que é considerado o país mais violento em termos proporcionais, em
termos de taxa, do mundo”.
“Esse é um problema que
continua muito sério no país e não está submetido especificamente à dimensão
dessa nova realidade, seja a lei de terrorismo ou outras questões. Mas estamos
com um problema muito agudo do padrão de trabalho das polícias”, destacou
Lima.
O total de policiais vítimas de homicídios em serviço e fora do
horário do expediente também é elevado no Brasil. Em 2015, foram mortos 393
policiais, 16 a menos do que no ano anterior. Proporcionalmente, os policiais
brasileiros são três vezes mais assassinados fora do horário de trabalho do que
no serviço: foram 103 mortos durante o expediente (crescimento de 30,4% em
relação a 2014) e 290 fora (queda de 12,1% em relação a 2014), geralmente em
situações de reação a roubo (latrocínio).
O Anuário Brasileiro
de Segurança Pública, que está em sua 10ª edição, será lançado no dia 3 de
novembro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública