O fracasso de público na Marcha para Jesus em Balneário Camboriú, que não chegou nem perto de alcançar 50 mil pessoas, como havia sido estimado pela organização, simboliza a fase difícil enfrentada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na busca pela reeleição, que já tem sido chamada de uma “tempestade perfeita”. Mesmo em Santa Catarina, um os estados mais bolsonaristas do país, onde teve mais de 70% de votação em 2018, desta vez o presidente não teve o engajamento que esperava.
Berço de denominações neopentecostais, com uma população majoritariamente idosa, Balneário Camboriú tinha tudo para entregar a Bolsonaro a imagem de uma multidão. O presidente contava com isso para contrapor os números das pesquisas eleitorais, que hoje apontam para um perigoso índice de rejeição, de mais de 50%, e para vitória do ex-presidente Lula (PT).
A menos de 100 dias das eleições, o principal adversário do governo é a vida real – o supermercado, o aluguel, o posto de gasolina. A economia patina, o poder de compra do brasileiro foi corroído pela inflação e os combustíveis viraram uma dor de cabeça. O novo aumento do diesel, logo após a cruzada contra o ICMS no Congresso Nacional, ajudou a esfriar a narrativa governista e a aprofundar a sensação de que Bolsonaro pouco fez para resolver o impasse.
O Brasil voltou ao mapa da fome e tem hoje 23 milhões de pessoas vivendo em condição de pobreza extrema, com R$ 210 por mês. É mais do que toda a população de Santa Catarina. Mesmo para quem tem emprego e renda, o salário não dura até o fim do mês.
A economia é o calcanhar de Aquiles do governo, que, segundo as pesquisas, o brasileiro identifica como o culpado pela crise. Sem respostas efetivas, e com prazo curto para reagir até outubro, Bolsonaro vê o cenário agravado pela crise institucional na Amazônia, onde a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips expôs ao mundo os impactos causados pelo desmonte da proteção ambiental e das políticas de proteção aos indígenas.
A última estocada ocorreu nesta semana, quando o governo foi atingido pela prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, as suspeitas de corrupção no Ministério da Educação e a divulgação de áudios que colocam o próprio presidente no olho do furacão. Desta vez, o ponto de enfraquecimento é nas narrativas anticorrupção.
Na espiral de crises em que o governo gira sem cessar, este é provavelmente o momento mais agudo. Com respostas a dar e problemas a resolver, Bolsonaro tentou levantar o ânimo da tropa com a multidão que Santa Catarina sempre lhe deu. Desta vez, não funcionou.