No Brasil, uma mulher é morta a cada hora e meia, de
acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ocupa a 5ª posição entre os países
onde mais se matam mulheres apenas por serem mulheres. É o chamado
"feminicídio", que ocorre quando o crime de homicídio é praticado
contra a vítima se aproveitando da condição do sexo feminino.
A Lei 13.104/15 fez com que
feminicídio passasse a ser um qualificador para o crime de homicídio, podendo aumentar
a pena em até 50%. E também um crime hediondo.
“O homem, infelizmente, já tem
aquele machismo dentro dele. E ele se acha possuidor, dominador e proprietário
da mulher”, declarou Carla Cavalcanti, coordenadora da Justiça Pela Paz em
Casa.
Andréa Miranda Teixeira, ascensorista, de 36 anos foi
morta pelo companheiro, inconformado com o fim do relacionamento.
O crime foi em junho e Andréa deixou
duas filhas, de dez e doze anos. O assassino, Ivair De Matos, está preso. O que
não diminui a dor da família, que acredita: o fim da história poderia ter sido
outro.
“Se ela tivesse logo procurado a
justiça eu acho que não chegava a esse ponto, pois separava de uma vez, mas ela
ficou com esperança que ele mudasse”, disse a mãe da vítima, Ana Paula Miranda.
Outra vítima em situação parecida foi Iarla Lima
Barbosa, estudante de arquitetura, que tinha 25 anos. Ela foi morta pelo
namorado porque dançou com amigos numa festa. O assassino foi José Ricardo da
Silva Neto, que era tenente do Exército. O namoro durou apenas uma semana.
Iarla era natural de Governador
Eugênio Barros, cidade com 16 mil habitantes, no leste do Maranhão. No dia 19
de junho deste ano, a cidade ficou chocada com um crime envolvendo uma jovem
que nasceu e foi criada no município. Ela estava em Teresina (PI) pra realizar
um sonho: se formar arquiteta. Mas o sonho foi interrompido. Iarla foi
assassinada pelo namorado.
“A forma dói demais. Saber que ela
não teve defesa de nada. Não teve. Ele foi muito frio”, declarou Lucinéia da
Silva, mãe da jovem morta.
A irmã de Iarla e uma amiga estavam
no carro quando ele começou a atirar. Ilana levou um tiro de raspão na cabeça.
E a amiga foi atingida no braço.
“Ele falou: você acha que eu não vi,
você dançando com todo mundo". Só que ela não tava dançando com todo
mundo. Ela tinha dançado só com ele e com dois amigos dele na mesa, como eu
tinha dançado com ele e os meninos e minha amiga tb. Logo em seguida, quando
ele falou isso, já pegou a arma e começou a fazer os disparos para o lado que
ela tava e foi rápido, muito rápido. Ele começou a fazer os disparos pra ela e
virou e começou a fazer os disparos pra trás e quando ele fez primeiro nela...
quando eu olhei pra ela, ela já tava com a cabeça baixa”, contou Ilana Barbosa,
irmã de Ilana.
Ele andou por 7 km até o prédio onde morava. Subiu para
o apartamento e abandonou o corpo da vítima no carro.
O assassino foi preso em flagrante.
Ficou no quartel do Exército em Teresina até ser expulso da corporação, no
início de agosto. Agora, ele aguarda julgamento num presídio comum. A família
tem feito manifestações no Maranhão e no Piauí pedindo justiça e o fim da
violência contra a mulher.
"Em verdade, há uma conotação
de feminicídio muito forte, ou seja, a relação estabelecida do machismo dele em
relação à namorada, que só tinha sete dias de namoro", relata o promotor
de Justiça d o Piauí, Ubiraci Rocha.
Em São Luís, outro caso de extrema violência contra a
mulher. Mariana Costa, publicitária de 33 anos foi morta pelo cunhado que se
dizia apaixonado e que não aceitou ser rejeitado por ela. O empresário Lucas
Porto era casado com a irmã de Mariana. Ele foi flagrado pelas câmeras de
segurança do prédio onde ela morava antes de ela ser violentada e morta.
“Deixou ela em casa, com a minha mãe
dentro do carro e todas as crianças. Ele foi embora com a minha mãe do prédio.
Já foi premeditando tudo”, disse Juliana Costa, irmã da vítima.
Lucas Porto aguarda julgamento no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São
Luís. Os advogados dele dizem que ele tem problemas mentais, apesar de ele
nunca ter apresentado nenhum sinal, segundo a família de Mariana, que conviveu mais
de uma década com ele.
“A gente tem que conversar e tentar
diminuir esse machismo cultural. infelizmente, esse machismo não é uma coisa
assim de hoje, é uma coisa do século XV, o século XVII, do tempo da Revolução
Francesa, do Iluminismo, que, naquela época o homem também tinha propriedade da
mulher, posse da mulher. Ela só era dona de casa e devia servir ao lazer, à
família e hoje em dia não acontece mais isso, né? Depois da Constituição de 88,
a mulher teve sua emancipação. Hoje ela está em igualdade com os homens. Em
relação ao trabalho muita coisa mudou, mas infelizmente a gente não teve esse
progresso na mentalidade do homem em relação ao machismo, em relação à cultura
que ainda continua nessa sociedade”, disse Carla Cavalcanti, coordenadora da Justiça
Pela Paz em Casa.
Do G1 MA
Do G1 MA