quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Mulheres que perderam a vida pelo machismo e covardia


No Brasil, uma mulher é morta a cada hora e meia, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ocupa a 5ª posição entre os países onde mais se matam mulheres apenas por serem mulheres. É o chamado "feminicídio", que ocorre quando o crime de homicídio é praticado contra a vítima se aproveitando da condição do sexo feminino.
A Lei 13.104/15 fez com que feminicídio passasse a ser um qualificador para o crime de homicídio, podendo aumentar a pena em até 50%. E também um crime hediondo.
“O homem, infelizmente, já tem aquele machismo dentro dele. E ele se acha possuidor, dominador e proprietário da mulher”, declarou Carla Cavalcanti, coordenadora da Justiça Pela Paz em Casa.

Andréa Miranda Teixeira, ascensorista, de 36 anos foi morta pelo companheiro, inconformado com o fim do relacionamento.
O crime foi em junho e Andréa deixou duas filhas, de dez e doze anos. O assassino, Ivair De Matos, está preso. O que não diminui a dor da família, que acredita: o fim da história poderia ter sido outro.
“Se ela tivesse logo procurado a justiça eu acho que não chegava a esse ponto, pois separava de uma vez, mas ela ficou com esperança que ele mudasse”, disse a mãe da vítima, Ana Paula Miranda.

Outra vítima em situação parecida foi Iarla Lima Barbosa, estudante de arquitetura, que tinha 25 anos. Ela foi morta pelo namorado porque dançou com amigos numa festa. O assassino foi José Ricardo da Silva Neto, que era tenente do Exército. O namoro durou apenas uma semana.
Iarla era natural de Governador Eugênio Barros, cidade com 16 mil habitantes, no leste do Maranhão. No dia 19 de junho deste ano, a cidade ficou chocada com um crime envolvendo uma jovem que nasceu e foi criada no município. Ela estava em Teresina (PI) pra realizar um sonho: se formar arquiteta. Mas o sonho foi interrompido. Iarla foi assassinada pelo namorado.
“A forma dói demais. Saber que ela não teve defesa de nada. Não teve. Ele foi muito frio”, declarou Lucinéia da Silva, mãe da jovem morta.
A irmã de Iarla e uma amiga estavam no carro quando ele começou a atirar. Ilana levou um tiro de raspão na cabeça. E a amiga foi atingida no braço.
“Ele falou: você acha que eu não vi, você dançando com todo mundo". Só que ela não tava dançando com todo mundo. Ela tinha dançado só com ele e com dois amigos dele na mesa, como eu tinha dançado com ele e os meninos e minha amiga tb. Logo em seguida, quando ele falou isso, já pegou a arma e começou a fazer os disparos para o lado que ela tava e foi rápido, muito rápido. Ele começou a fazer os disparos pra ela e virou e começou a fazer os disparos pra trás e quando ele fez primeiro nela... quando eu olhei pra ela, ela já tava com a cabeça baixa”, contou Ilana Barbosa, irmã de Ilana.
Ele andou por 7 km até o prédio onde morava. Subiu para o apartamento e abandonou o corpo da vítima no carro.
O assassino foi preso em flagrante. Ficou no quartel do Exército em Teresina até ser expulso da corporação, no início de agosto. Agora, ele aguarda julgamento num presídio comum. A família tem feito manifestações no Maranhão e no Piauí pedindo justiça e o fim da violência contra a mulher.

"Em verdade, há uma conotação de feminicídio muito forte, ou seja, a relação estabelecida do machismo dele em relação à namorada, que só tinha sete dias de namoro", relata o promotor de Justiça d o Piauí, Ubiraci Rocha.
Em São Luís, outro caso de extrema violência contra a mulher. Mariana Costa, publicitária de 33 anos foi morta pelo cunhado que se dizia apaixonado e que não aceitou ser rejeitado por ela. O empresário Lucas Porto era casado com a irmã de Mariana. Ele foi flagrado pelas câmeras de segurança do prédio onde ela morava antes de ela ser violentada e morta.
“Deixou ela em casa, com a minha mãe dentro do carro e todas as crianças. Ele foi embora com a minha mãe do prédio. Já foi premeditando tudo”, disse Juliana Costa, irmã da vítima.

Lucas Porto aguarda julgamento no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. Os advogados dele dizem que ele tem problemas mentais, apesar de ele nunca ter apresentado nenhum sinal, segundo a família de Mariana, que conviveu mais de uma década com ele.

“A gente tem que conversar e tentar diminuir esse machismo cultural. infelizmente, esse machismo não é uma coisa assim de hoje, é uma coisa do século XV, o século XVII, do tempo da Revolução Francesa, do Iluminismo, que, naquela época o homem também tinha propriedade da mulher, posse da mulher. Ela só era dona de casa e devia servir ao lazer, à família e hoje em dia não acontece mais isso, né? Depois da Constituição de 88, a mulher teve sua emancipação. Hoje ela está em igualdade com os homens. Em relação ao trabalho muita coisa mudou, mas infelizmente a gente não teve esse progresso na mentalidade do homem em relação ao machismo, em relação à cultura que ainda continua nessa sociedade”, disse Carla Cavalcanti, coordenadora da Justiça Pela Paz em Casa.
Do G1 MA