O Estado de S. Paulo
Um relatório do Setor de Inteligência
da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas, datado de
segunda-feira, 9, e obtido pela GloboNews, mostra que a Família do Norte (FDN)
já planejava atentados a bomba contra autoridades, como a segunda parte do
plano iniciado com o massacre de rivais e desafetos em Manaus.
Os líderes locais da FDN teriam partido
para uma retaliação após os principais chefes da facção, detidos em presídios
federais, não terem voltado ao Estado no fim do ano, como solicitavam os
detentos desde outubro. Como parte do plano definido na época constava o ataque
contra o secretário de Segurança, Sérgio Fontes, e contra o promotor de Justiça
Lauro Tavares, do Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão
ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Amazonas.
O relatório aponta ainda que, na
sexta-feira da semana passada, em conversa de celulares interceptada de dentro
do Compaj, o líder do regime fechado, apelido de Marquinhos, falou do sucesso
da primeira parte do plano - com as 56 mortes - e disse que a segunda fase
estava em andamento.
Atentados seriam feitos com bombas
deixadas em malas no Tribunal de Justiça e no Ministério Público. A tarefa
seria chefiada por um detento do semiaberto: Nigéria. Ele já teria obtido
metralhadoras, além do apoio de quatro pistoleiros e de criminosos colombianos
especializados no uso de explosivos.
PMs envolvidos
O relatório pede sigilo aos envolvidos, uma vez que haveria risco de policiais
militares estarem vazando informações para a FDN.
Massacres em Manaus e Boa Viasta
Um sangrento confronto entre facções no
Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, deixou 56 mortos entre a tarde
de 1º de janeiro e a manhã do dia 2. A rebelião, que durou 17 horas, acabou com
detentos esquartejados e decapitados no segundo maior massacre registrado em
presídios no Brasil - em 1992, 111 morreram no Carandiru, em São Paulo. Treze
funcionários e 70 presos foram feitos reféns e 184 homens conseguiram fugir.
Outros quatro presos foram mortos no Instituto Penal Antonio Trindade (Ipat),
também em Manaus. Segundo o governo do Amazonas, o ataque foi coordenado pela
facção Família do Norte (FDN) para eliminar integrantes do grupo rival, o
Primeiro Comando da Capital (PCC).
Cinco dias depois, o PCC iniciou sua
vingança e matou 31 detentos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC),
em Boa Vista, Roraima. A maioria das vítimas foi esquartejada, decapitada ou
teve o coração arrancado, método usado pelo PCC em conflitos entre facções. Com
1.475 detentos, a PAMC é reduto do PCC, que está em guerra contra a facção
carioca Comando Vermelho (CV) e seus aliados da FDN. Roraima tem 2.621 presos -
900 dos quais pertenceriam a facções, a maioria do PCC. No total, 27 facções
disputam o controle do crime organizado nos Estados.
A guerra de facções deixou o sistema
penitenciário em alerta, os e governadores de Amazonas, Roraima, Rondônia,
Acre, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul pediram ajuda do governo
federal com o envio da Força Nacional. Amazonas foi o primeiro Estado a
receber. A crise é tamanha que, segundo o Conselho Nacional de Justiça, são
necessários R$ 10 bilhões para acabar com déficit prisional no País.