Breno Pires, de Brasília
O Estado de São Paulo
BRASÍLIA – O ex-presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário Marcelo Odebrecht prestaram
depoimentos na tarde desta terça-feira (4), como testemunhas, no processo que
tramita na Justiça Federal do Distrito Federal contra o ex-deputado federal
Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro, no âmbito da Operação Sépsis. A
investigação trata de um suposto esquema de pagamento de propina para liberação
de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela
Caixa Econômica Federal.
Chamado pela defesa de Funaro, Marcelo
Odebrecht disse não conhecer o doleiro, e afirmou se lembrar de apenas uma
reunião com Eduardo Cunha na residência oficial da Câmara. Sobre influência de
Cunha na Caixa, Marcelo Odebrecht disse que “todo mundo dava como certo que
Fabio Cleto estava dentro da área de influência de Eduardo Cunha”, no
depoimento prestado ao juiz Vallisney de Souza Oliveira.
Apresentando mais um panorama geral do
que detalhes sobre as invesitgações, o herdeiro do Grupo Odebrecht disse que
nunca pagou diretamente propina a Cunha e que não tinha controle de pagamentos
ao então deputado. Afirmou que os contatos de Cunha com o Grupo Odebrecht eram
concentrados em três ex-executivos — também delatores –, Fernando Cunha Reis,
Benedicto Júnior e Cláudio Melo Filho. E que eles é que poderiam dar mais
informações.
Marcelo Odebrecht, no entanto, disse
ter conhecimento que o presidente Michel Temer fazia parte do grupo de Cunha e
de Henrique Eduardo Alves na Câmara dos Deputados. A informação eram pessoas
muito próximas e que tinha conhecimento que o presidente Michel Temer fazia
parte do grupo de Cunha na Câmara.
“O Claudio Melo me disse da relação
muito próxima entre Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. E me dizia que o
presidente Michel Temer fazia parte desse grupo (de Cunha e Henrique Eduardo
Alves na Câmara)”, afirmou Marcelo Odebrecht. “Cláudio Melo é a pessoa que tem
a informação direta, porque tudo que eu vim a falar é o que escutei dele”,
disse.
Presos, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo
Alves são alguns dos investigados no Supremo Tribunal Federal no inquérito que
apura a formação de organização criminosa por parte de membros do PMDB da
Câmara. No curso da investigação contra o presidente Temer no Supremo, a PGR
pediu e o ministro Edson Fachin autorizou que sejam incluídas naquele inquérito
do “quadrilhão” do PMDB na Câmara informações sobre participação de Temer nesta
suposta organização criminosa.
Cunha tem mais de um mandado de prisão
contra si, um deles na Justiça Federal do Paraná no caso que apura propina por
uma obra na África e outro no curso da Operação Patmos. No caso de Henrique
Alves, ele foi preso no início de junho em uma investigação que é desdobramento
da Lava Jato e apura sobrepreço de R$ 77 milhões na construção da Arena das
Dunas, no RN.
Sobre o Porto Maravilha, Marcelo
Odebrecht disse não saber se houve tratativas ilícitas entre a Odebrecht e
Cunha envolvendo os projetos relacionados, diante do questionamento feito pelo
juiz Vallisney de Souza Oliveira sobre se ele tinha conhecimento de uma reunião
entre Cunha e Cleto e membros da Carioca Engenharia, Odebrecht e OAS — três
construtoras envolvidas nas obras.
Em relação a Moreira Franco, que foi
vice-presidente da Caixa, Marcelo Odebrecht disse que não conhecia tratativa
ilícita em relação à Odebrecht. “Se houve, quem pode dizer era Claudio Melo
Filho, que tinha relação com ele”, disse. O herdeiro do grupo Odebrecht disse
também que não sabia que Moreira Franco tinha um filho como diretor da
Odebrecht Ambiental, Pedro Moreira Franco.
Lula
Incluído pela defesa de Cunha como
testemunha, o ex-presidente da República negou ter conhecimento de sobre
influência de Eduardo Cunha na vice-presidência da Caixa Econômica Federal ou
que ele tivesse exercido influência na indicação de Fabio Cleto como
vice-presidente do banco.
Em relação à nomeação do atual ministro
Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) para a vice-presidência da
Caixa, Lula disse não ter certeza de quem especificamente teria feito a
indicação, mas que teria vindo da bancada do PDMB da Câmara. Sobre o FI-FGTS, o
ex-presidente disse que “a ideia da criação do fundo era usar o fundo de
garantia para alavancar o investimento em obras de infraestrutura do país”.
Lula negou ter conhecimento de
influência de Cunha em relação a projetos relacionados ao Porto Maravilha, na
cidade do Rio de Janeiro, obra realizada no contexto da preparação para as
Olimpíadas. Questionado sobre se o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes
ou alguém mais teriam feito qualquer pedido para ajudar no projeto da
Olimpíada, Lula desconversou com ironia. “Eu lamentavelmente não fui nem
convidado para ir às Olimpíadas”.
O ex-presidente disse, também, que não
havia uma preferência pela Odebrehct, quando o Fundo de Investimento do FGTS
foi criado, durante seu segundo mandato presidencial.